Queda de Investimentos em AgriFoodTechs. E agora? Conselhos de Investidores para Fundadores

Na última quinta-feira (14/03), foi lançada a edição do AgFunder Global AgriFoodTech Investment Report de 2024, que apresentou uma queda de 50% nos investimentos em agrifoodtechs (US$ 16 bilhões) no ano de 2023, comparado com anterior (US$ 31 bilhões), atingindo o ponto mais baixo em seis anos.

Fonte:

Neste contexto, na edição da Newsletter Rural Insights desta semana, vamos apresentar alguns dados relevantes do relatório e conselhos para fundadores, feito por quem investe. Vamos lá?

Entre as que tiveram declínio em investimentos, destaca-se as startups das seguintes categorias: novos sistemas agrícolas (-79%); varejo em nuvem (-75%); eGrocery (-60%); software de gerenciamento agrícola, sensoriamento e IoT (-58%); restaurantes on-line e mercados de refeições (-58%), tecnologias para varejo e restaurantes (-57%); tecnologias do centro das cadeias produtivas – “pós-porteira” e antes do varejo (55%), tecnologia para casa e culinária (-53%) e alimentos inovadores (-51%).

A boa notícia veio para as agtechs que operam “dentro da porteira”. Apesar de menos deals, esta categoria representou 62% do investimento total em dólares, superior aos 51% em 2022 e 30% em 2021. Destaque também para as agtechs de bioenergia e biomateriais e robótica agrícola, mecanização e equipamentos. que, apesar de nunca terem representado uma porcentagem grande de investimento em agrifoodtech, o investimento neste setor aumentou 20% (3 mil milhões de dólares em 177 negócios) em 2023.

Segundo o relatório do AgFunder, 2024 será um ano difícil no nível global, “mas também será um ano incrível para investir em novas empresas que foram forçadas a repensar os seus modelos de negócio e a adoptar uma abordagem mais enxuta; isso é saudável para o mercado e para as avaliações”.  Para entender melhor o cenário de Venture Capital no Brasil, conversei com Kieran Gartlan, sócio da gestora The Yield Lab LATAM.

Kieran, o que representa a queda de 50% nos investimentos globais em agrifoodtechs? E como fica o Brasil neste contexto?

Kieran: A queda foi um reflexo natural em consequência da queda de Venture Capital em geral (dividido em juros altos que atraem mais capital para o mercado de renda fixa e menos para os mercados de risco). Em agritech este queda refletiu mais em algumas áreas de capital intensivo e estágio mais avançado (indoor farming, proteína alternativa). Por enquanto, o impacto é no número de investimentos (principalmente em early stage) e como o Brasil não tem foco forte em fazendas urbanas, nem proteína alternativas, eu diria que o impacto por aqui não é significativo. O que temos é um período mais longo para fechar rodadas (VCs mais seletivas) e valuations mais baixos (o que também impacta no volume total de capital investido).

Como fundador(a) de startup brasileira, eu devo me preocupar? Qual conselho vc me daria?

Kieran: Para os melhores fundadores, não vai ter problema. Até fica mais fácil, porque há menos fumaça/hype. Os investidores estão mais seletivos e com menos pressa em geral, mas quando coisas interessantes aparecem eles vão querer fechar rápido (para não perder).

Os principais critérios para empreendedores priorizarem quando fazer captação são:

  • Mostrar qual é a oportunidade para o investidor multiplicar seu investimento…não é um sales pitch, não fique vendendo o produto/solução. Mostre o tamanho do mercado e como você vai acessá-lo com uma tecnologia realmente inovadora. Para ter credibilidade, tem que ter founder-market-fit (os empreendedores têm que mostrar expertise no mercado onde eles atuam, não basta ser expert só em tecnologia).
  • Focar no modelo de negócios. Mostrar o unit economics, CAC, LTV etc. A maioria de startups falham porque não sabem fazer gestão correta das finanças até chegar no breakeven (que sempre demora mais do que esperado)
  • Seja original, ou pelo menos tenha insights originais em relação ao problema/solução/mercado/acesso ao mercado/timing de mercado ou outro ponto que o investidor vai lembrar e comentar depois. Se não tiver nada de extraordinário, você vai ser esquecido rapidamente (VCs olham centenas de deals e é preciso se destacar).

Fernando Rodrigues, fundador e sócio da Rural Ventures, complementou:

Rodrigues: No que diz respeito à captação de recursos, é essencial comunicar de forma eficaz o potencial de sua solução para atrair investidores. Isso inclui destacar não apenas a tecnologia subjacente, mas também os benefícios tangíveis que ela oferece aos produtores e ao agronegócio como um todo. Além disso, é fundamental entender o ciclo de investimento e as preferências dos investidores em relação ao risco e ao retorno.

Embora o nosso ecossistema de inovação esteja amadurecendo, não é possível separá-lo do cenário global e brasileiro. Estar atento e preparado às flutuações de mercado pode ser um diferencial na gestão e crescimento de uma agtech. Assim reforçou Rodrigues:

Rodrigues: Ao embarcar na jornada de fundar uma startup no agronegócio, é crucial compreender que, apesar do apelo do capital de risco, ele não deixa de ser um produto financeiro, comparado a outras opções de investimento como renda fixa, ações e imóveis. Neste contexto, os investidores avaliarão sua solução em relação a essas alternativas, levando em consideração o cenário macroeconômico, incluindo taxas de juros, inflação e aversão ao risco.

Rodrigues também pontuou que além de olhar para fora, os fundadores precisam compreender profundamente do seu negócio, considerando também aspectos internos, sendo “user centric” no desenvolvimento e entrega das soluções tecnológicas.

Rodrigues: Além do ciclo econômico, é essencial considerar a abordagem junto aos produtores, que representam o cliente final. A pergunta constante que todo empreendedor deve se fazer é: o que não mudará em meu negócio? A tecnologia é constantemente incrementada, com novidades surgindo diariamente para moldar o mercado. No entanto, é primordial que o cliente compreenda o valor que essa tecnologia oferece, o que muitas vezes é negligenciado em meio ao emaranhado de inovações.

O cliente final precisa enxergar não apenas uma parte, mas um produto completo e tangível. Infelizmente, no mercado de agtechs, temos observado uma tendência em oferecer soluções fragmentadas, o que pode dificultar a compreensão do valor agregado. Portanto, o foco deve estar em desenvolver produtos simples, acessíveis e com benefícios claros e imediatos.

Em resumo, os fundadores de startups no agronegócio devem estar atentos não apenas às inovações tecnológicas, mas também à forma como essas inovações são comunicadas e entregues ao mercado. Ao desenvolver produtos simples, acessíveis e com benefícios claros, e ao adotar estratégias eficazes de captação de recursos e go-to-market, as startups podem se posicionar de forma competitiva em um setor em constante evolução.

Pois é, caros fundadores, criar e desenvolver uma startup nunca foi fácil e nunca será. Mas, com conhecimento, informação, conexões, colaboração e conselhos/mentorias de quem vive inovação, apoia e fomenta pode ser um caminho menos árduo. Seguimos juntos, construindo o futuro do agro!

Vamos às notícias de investimentos em agtechs!


STARTUPS DO AGRO SE TORNAM OPÇÃO DE INVESTIMENTO DE QUEM NÃO É DO SETOR

Nos últimos dois anos, mais de 2,86 mil investidores pessoas físicas realizaram aportes em agtechs via equity crowdfunding, modalidade que funciona como uma vaquinha virtual, mostram dados das plataformas Arara Seed , Captable e EqSeed. A diferença é que, em vez de receber itens ou benefícios como nas vaquinhas tradicionais, os apoiadores ganham participação acionária na empresa ou um título de dívida.

Link matéria Globo Rural


BEMAGRO CAPTA R$ 10,2 MILHÕES EM RODADA LIDERADA PELA CNH

A BemAgro S.A, startup que utiliza Inteligência Artificial (IA) e visão computacional para transformar dados em informações úteis para tomada de decisão no campo, captou R$ 10,2 milhões em uma rodada de investimento liderada pela gigante CNH, dona das marcas New Holland e Case IH. Participaram também Rural Ventures, MM Agro e AgroVen.

Link matéria Globo Rural


TRAIVE CAPTA US$ 20 MILHÕES EM RODADA COM BANCO DO BRASIL

A startup Traive anunciou em fevereiro a captação de US$ 20 milhões em uma rodada de investimento com participação do Banco do Brasil e dos investidores atuais. O BB realizou o aporte via Fundo BB Impacto ASG I, gerido pela Vox Capital.

Link matéria Globo Rural


‘TEMOS TUDO PARA VIRAR UNICÓRNIO ESTE ANO’, DIZ FUNDADOR DA AGROTOOLS, STARTUP DO AGRONEGÓCIO

“Nós temos tudo para virar unicórnio e acho que, se não formos nós, não vai ter nenhum no segmento de agtechs (as startups de tecnologia para o agronegócio) este ano”, diz Sergio Rocha, fundador e CEO da Agrotools considerada uma das maiores empresas no ecossistema de soluções digitais, tecnologia e inteligência para o agronegócio.

Link matéria Estadão


AGROFORESTRY ABRE RODADA PARA CAPTAR R$ 1,6 MILHÃO

A Agroforestry Carbon, startup que desenvolve projetos de agrofloresta para compensação voluntária de carbono, abriu uma rodada para captar R$1,6 milhão por meio da plataforma de equity crowdfunding Arara Seed. Investidores poderão participar com cheques a partir de R$1 mil.

Link matéria Globo Rural


BUNGE LIDERA RODADA DE INVESTIMENTO DE R$ 60 MILHÕES EM FINTECH BRASILEIRA DE TOKENIZAÇÃO

A Bunge, maior empresa do mundo no setor do agronegócio, liderou uma rodada de investimento de cerca de US$ 12,5 milhões (R$ 60 milhões, na cotação atual) na Agrotoken , uma fintech nacional focada em na tokenização de ativos do mundo real (RWA, na sigla em inglês) ligados ao setor agropecuário no Brasil.

Link matéria Exame


RURAL SUMMIT COLOCA AGTECHS E INVESTIDORES FRENTE A FRENTE

Na edição de 2023, a primeira do Rural Summit, participaram 150 pessoas, incluindo 26 agtechs, 12 hubs de inovação e 12 empresas de Venture Capital. A ideia é dobrar de tamanho em 2024, e contar com 300 pessoas, cerca de 50 startups e mais de 20 investidores.

Matéria AgFeed

E as inscrições para a segunda edição de 2024 do Rural Summit estão abertas! Organizado por Arara Seed, Rural Ventures e The Yield Lab LATAM, o evento acontece dia 2 de maio, em Ribeirão Preto, SP, contando com parceiros como Cubo.network Agro, São Martinho , os principais hubs do país e a cobertura oficial AgFeed.

Prepare-se para muitas oportunidades de conexão com os avanços tecnológicos que estão transformando o mundo agro!


E MAIS UM CONVITE PARA VOCÊ

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Até semana que vem!


Agradecimento especial para AgroIbmec por ajudar a construir a matéria desta semana.


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